Publicado Originalmente no Site Dom Total
Tradicionalmente, o sentido mais valorizado por nós é o da visão. Todos já ouvimos que os olhos são a janela da alma; há quem diga, ainda, que são o espelho. Costuma-se pensar que apreendemos o mundo pelos olhos. Quem nunca se incomodou com o fato de conversar com alguém que tem dificuldade em olhar nos olhos? Geralmente, não olhar nos olhos de alguém para conversar contribui para a desconfiança e para a dúvida a respeito da sinceridade do que se diz. Não há dúvidas de que a visão é um dos sentidos mais importantes, não só fisicamente, mas, também, simbolicamente.
A fé cristã, no entanto, não supervaloriza a visão. Pelo menos não biblicamente. Não significa, porém, que não perceba sua importância. Se analisarmos, por exemplo, as narrativas relativas às aparições de Jesus Ressuscitado, perceberemos que os evangelhos, sobretudo o de João, buscam levar os leitores a perceberem o que está no mais profundo do significado de dizer que Jesus ressuscitou e que apareceu aos discípulos. Não se trata de ver o Ressuscitado, mas de fazer uma experiência – sem dúvidas, mística – com ele. São os emblemáticos casos de Tomé, no Evangelho de João, e dos Discípulos de Emaús, no Evangelho de Lucas: para o primeiro, não basta nem apenas a visão, ele exige o toque; para os outros dois, quando os olhos se abrem, eles já não veem mais.
No início do Evangelho de João, no entanto, duas cenas chamam a atenção. Ambas ligadas ao ver. A primeira cena (cf. Jo 1,35-39) narra João Batista que, acompanhado de dois de seus discípulos, aponta para Jesus, indicando-o como o Cordeiro de Deus. Por causa do que dissera João, os dois discípulos passaram a seguir Jesus. O Cristo, ao perceber a aproximação dos dois discípulos, lança uma interpelação, a respeito do que queriam. Uma pergunta surpreendente e inesperada parte dos dois discípulos: “Mestre, onde moras?”. Buscar saber onde mora o Mestre Jesus significa querer conhecer sua intimidade, descobrir quem ele realmente era. Em casa, geralmente somos quem somos.
A resposta de Jesus não foi a de quem passou um endereço; ou de quem deu a indicação, com referências, de onde residia. A resposta dele foi um convite: “Vinde e vede!”. Esse é um convite estendido a cada discípulo e discípula, de todos os tempos. Ele próprio nos abre à possibilidade de adentrar sua intimidade, de compartilhar de sua vida, que continua dando sentido a tanta gente, ainda hoje. Ir ver onde mora Jesus é agradável e suave tarefa pressuposta a todo discípulo e discípula. Faz parte do processo discipular conhecer a intimidade do Mestre. A narrativa continua dizendo que os discípulos foram com Jesus, viram onde morava e que permaneceram com ele. Interessante é o detalhe que João nos traz: era por volta das quatro horas da tarde! A nós, que nos pretendemos discípulos e discípulas de hoje, quando se deu ou se darão as nossas “quatro horas”?
A segunda cena (cf. Jo 1,43-51) também diz respeito à dinâmica de seguimento de Jesus. Nela, é-nos narrado que, no dia seguinte ao episódio com os dois discípulos de João, Jesus decidiu partir para a Galileia. Lá, ele encontrou Filipe, a quem tão logo lançou o convite: “Segue-me!”. Filipe, por sua vez, ao encontrar Natanael, contou-lhe ter encontrado a Jesus de Nazaré, aquele a respeito do qual havia escrito tanto Moisés quanto os profetas. Natanael, duvidoso acerca do lugar de onde vinha Jesus, logo pergunta: “De Nazaré pode sair algo de bom?”. A ironia joanina é perceptível: na cena anterior, os dois discípulos foram à casa de Jesus e com ele permaneceram. Aqui, Natanael lança dúvidas. Filipe, então, lança o convite-desafio: “Vem e vê!”. Tal como os dois primeiros discípulos, Natanael também vai, em busca de ver. O encontro com Jesus é significativo. O Mestre já havia reparado em Natanel: “[…] eu te vi”.
Ver, aqui, tal como podemos perceber, é mais que uma atividade ocular. Trata-se de contemplar, em profundidade, a vida de Jesus, partilhando com ele da sua vida inteiramente doada. É o olhar que torna possível o apaixonamento. Apaixonar-se por Jesus e por sua causa, deixando que o despertar nascido do encantamento nutra um profundo e autêntico amor, capaz de fazer com que a ele fiemos nossa vida, é convite sempre aberto – e necessário – a cada pessoa, sobretudo àquelas que se reconhecem como cristãs. Ele nos viu por primeiro e isso nos abre a uma grande possibilidade: deixarmo-nos por ele ser cativados, adentrando a profundidade de sua intimidade. Que o seu convite ecoe em nós: “Vinde e vede!”.
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo e autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.
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