1.2 Seguir Jesus pelo caminho
Cada leitor de Lucas é, ao mesmo tempo, convidado e desafiado a percorrer esse caminho de salvação, a olhar retrospectivamente o caminhar da Palavra de Deus, presente nas promessas feitas a Israel, o caminhar de Jesus como realização dessas promessas e, por fim, o caminhar da Palavra proclamada pelos apóstolos na força do Espírito. Tais etapas estão intimamente relacionadas. Formam um único itinerário: o caminho da salvação realizada por Deus na história humana, que alcança os nossos tempos, nos interpela, nos dá sentido à existência e nos impele a aventurar-nos nessa travessia.
O tema do “caminho”, na obra lucana, qualifica a vida e a comunidade cristã. O uso do verbo “ir” (passar, caminhar), que aparece 51 vezes no evangelho e 37 nos Atos, confirma essa perspectiva. Esse verbo aparece tanto nos relatos da infância, para indicar que os pais de Jesus estão a caminho de Jerusalém (cf. 1,39; 2,3.41), como no final do episódio da sinagoga de Nazaré (cf. 4,30), na inauguração de sua pregação na Galileia (cf. 4,14-9,50).
Nos caminhos da Galileia, Jesus pregava e anunciava a Boa-Nova do Reino de Deus (cf. 8,1) por palavras e obras: por meio de parábolas que mostram como se deve ouvir a Palavra de Deus, dar-lhe atenção (cf. 8,4-21), e de ações que comprovavam ser ele o Messias (cf. 8,22-56). No sermão da planície, é apresentado como profeta, que traz uma mensagem de fraternidade, filiação, amor e misericórdia (cf. 6,12-49).
Em Lc 9,51, Jesus toma decididamente o caminho de Jerusalém (cf. 9,51-19,27), seguido por seus discípulos e grande multidão. Seu destino é Jerusalém, centro e símbolo do antigo povo de Deus, o coração de todas as expectativas e esperanças de Israel, onde morrerá para entrar na glória e, desse modo, cumprir todas as profecias a seu respeito (cf. 24,27).
No caminho para Jerusalém, além das instruções acerca das condições do seguimento (cf. 9,51-10,42), da oração (cf. 11,1-13) e das características do verdadeiro discípulo (FABRIS, 2006, p. 13) – para que os discípulos compreendam as implicações da mensagem de Jesus na práxis cotidiana –, é narrada a parábola que foi universalizada com o título de “o Bom Samaritano” (cf. 10,25-37). Nessa parábola, a vivência do seguimento de Jesus é a execução da vocação do ser humano expressa na totalidade das Escrituras, vocação que, em resumo, implica a tarefa de amar efetivamente a Deus e ao outro que nos interpela no caminho para a vida eterna.
No capítulo 15 do Evangelho de Lucas, encontramos três parábolas que tratam do tema da alegria em encontrar o que se havia perdido e nos revelam a maneira como Deus age – norma para a vida dos discípulos e da comunidade cristã. Prosseguindo o caminho, continuam as instruções sobre o uso dos bens (cf. Lc 16), sobre a espera vigilante do Filho do homem (cf. 17,22-37; 18,1-8; 19,11-27) e sobre a salvação e o perdão universais, oferecidos também aos excluídos e pecadores (cf. 17,11-19; 18,9-14; 19,1-10).
O último episódio da parte central do Evangelho de Lucas, a grande viagem de Jesus para Jerusalém, acontece na casa do chefe dos cobradores de impostos (cf. 19,1-10). Nesse ponto, mostra-se a opção por Jesus e o abandono do ídolo das riquezas. O relato mostra o processo de iniciação à fé realizado por Zaqueu. No início, ele demonstra um fascínio por Jesus, mas poderia ter se detido aí. A admiração por Jesus ainda não é uma adesão de vida aos propósitos do Reino. Foi a atitude de Jesus, contrária à da multidão, que levou Zaqueu a uma fé madura, com consequências práticas para a própria vida.
O caminhar de Jesus não termina com a chegada a Jerusalém e com a paixão que sofreu. Essa caminhada continua nas cenas seguintes após sua morte, com os discípulos de Emaús (cf. 24,28). Ela se conclui em Jerusalém, quando, reunido com os discípulos, Jesus sobe aos céus (cf. At 1,10-11) e derrama o seu Espírito sobre a Igreja (cf. At 2,32.35). Esta, por sua vez, continuará a “caminhar”. O protagonista dessa caminhada é, a partir de então, a “Palavra”, que será anunciada com intrepidez pelos apóstolos desde Jerusalém até os confins do mundo, conforme o programa apresentado em At 1,8.
Publicado em Vida Pastoral – Paulus
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