A instituição paróquia é riquíssima e não convém subestimá-la. Ela sempre desempenhou um papel muito forte de integração social no meio rural e, sobretudo, no meio urbano, a partir do século VI. Esse papel persistiu ao longo da Renascença, pois foi reforçado após a Reforma Protestante e pelos concílios dos séculos XVII e XVIII, e continua nos séculos XX e XXI.
Hoje em dia, a instituição carrega consigo um estigma do rural que pode impedi-la de ter eficácia no mundo urbano.
Segundo o Concílio de Trento, a paróquia é um território demarcado, com um pároco residindo nele, em nome do bispo. Nesse sentido, havia uma estreita ligação do pároco com os fiéis e a obrigação de conhecer as ovelhas. Foi nessa época que surgiram os livros das almas e os registros paroquiais. O modelo tridentino de paróquia assumiu o valor capital da proximidade.
UMA ESTRUTURA QUE SE RENOVA
Historicamente, a estrutura paroquial foi ganhando forças principalmente com os padres conciliares no Vaticano II que analisaram a evolução do sistema paroquial como uma condição histórica do cumprimento do mandato de Jesus.
Os documentos do Concílio do Vaticano II vieram modificar, ou melhor, corrigir o modelo de paróquia adotado por Trento, cinco séculos antes, e apresentar uma relação calorosa entre os fiéis que se conhecem e fazem comunidade. Eles deram credibilidade à instituição paróquia.
É bom lembrar que o Concílio, mesmo não tendo dedicado um documento ou capítulo a instituição paróquia, a reforma pastoral provocada por ele teve repercussões profundas na vida e constituição desta instituição.
O Concílio do Vaticano II definiu a paróquia como “célula da diocese” (AA 10c) e, segundo o mesmo, “as paróquias representam a Igreja visível estabelecida em toda a terra como o propósito de que floresça o sentido comunitário paroquial” (SC 42).
A Constituição sobre a Liturgia deu à paróquia um quadro eclesiológico imprescindível ao afirmar que “como não é possível ao bispo, sempre e em todas as partes, presidir pessoalmente na sua Igreja a toda a grei, deve, por necessidade, erigir diversas comunidades de fiéis. Entre elas sobressaem as paróquias, entregues localmente a um pastor que faz às vezes do bispo, já que de alguma maneira representa a Igreja visível estabelecida em toda a terra” (SC 42).
No entanto, a paróquia, à luz do Concílio do Vaticano II, deve desenvolver a dimensão da proatividade, ou melhor, ser proativa a uma sensibilidade especial do homem contemporâneo.
Proatividade é um conceito ou palavra utilizada, a todo o momento e, na imensa maioria dos casos, como sinônimo de iniciativa, agilidade, assertividade, eficácia, prontidão e objetividade.
2 conceitos para uma paróquia proativa
- A paróquia proativa deve assumir a missão de se adaptar às exigências conjunturais, transformando-se em verdadeiros centros de irradiação missionária;
- A paróquia proativa deve interferir de maneira consciente e positiva na sociedade pós-moderna, sendo uma “célula viva”, na qual os cristãos de uma região ou de uma localidade tenham “espaço-tempo” para viver a comunhão de fé, de culto e de missão com a Igreja diocesana e, por meio dela, com todo o corpo da Igreja Católica.
No mundo da urbanização, a paróquia que possui destreza para ser sinal da Igreja visível, deve dar respostas à sociedade buscando atualização do seu campo de apostolado e adotando postura consciente e responsável em relação a sua missão.
A paróquia proativa nunca deve atuar às pressas, de forma caótica e desorganizada, deixando-se levar pelos impulsos do momento.
Paróquia proativa é aquela que procura estar próxima das pessoas, levando os fiéis a fazer o “encontro pessoal com Cristo” por meio da Sagrada Escritura, da sagrada liturgia, da eucaristia, da reconciliação, da oração pessoal e comunitária, na comunidade viva de fé, no amor fraterno, nos pobres, aflitos e enfermos, na piedade popular e na devoção a Maria (DAp 246-275).
Finalmente, a paróquia proativa, como um trunfo no avanço da secularização, deve ter visão, planejamentos, ações, aspirações, ideais que possam recuperar em novos moldes, novas dinâmicas, novas estruturas a sua natureza profunda e a sua razão de ser na sociedade: “células vivas da Igreja e o lugar privilegiado onde a maioria dos fiéis tem uma experiência concreta de Cristo, a comunhão eclesial” (DAp 170).
Dom Edson Oriolo é Bispo Auxiliar na Arquidiocese de Belo Horizonte/MG, Mestre em Filosofia Social, Especialista em Marketing, Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Pessoas, Professor, “Leader and Professional Coach” pela Act Coaching Internacional e membro do Conselho de Conteúdo da Revista Paróquias. Autor do livro “A nova pastoral do dízimo: formação, implantação e missão na Igreja”, publicado pela Catholicus Editora e “Paróquia Renovada: sinal de esperança”, Paulus Editora.
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