“A Liturgia das Horas é a oração pública da Igreja, fonte de piedade e alimento da oração pessoal” (SC 90)

Todo gesto de amor é um ofício divino, mas como seres humanos temos necessidade de expressar em linguagem simbólica e ritual o que somos, cremos e fazemos. É uma oração preferencialmente comunitária, de louvor e intercessão que organiza de modo peculiar elementos comuns a toda celebração cristã, tais como: leituras bíblicas, salmos, hinos de meditação, orações, músicas e tempos de silêncio, gestos e símbolos, tudo isso em determinadas horas do dia, levando em conta a semana e o tempo litúrgico.

O ofício divino das comunidades cristãs tem sua origem nas comunidades judaicas que fazem suas orações cotidianas três vezes ao dia: de manhã, à tarde e ao meio dia. Por exemplo, de manhã, “antecipar-se ao sol para agradecer e adorar o Senhor” (Sb 16,28); de tarde, a ação de graças a Deus que transformou o caos primitivo e fez surgir a manhã depois de cada noite. Mas vem também da prática de Jesus que orava como judeu e que ensinou ser preciso vigiar e orar sempre com perseverança (Lc 18,1).

Nas primeiras comunidades cristãs (I século), os seguidores de Jesus colocaram os ensinamentos do mestre como ideal. Como encontramos no livro dos Atos dos Apóstolos, eles às nove horas (hora terceira) (cf. Atos 2,1.15) faziam a oração da manhã; depois, às três horas (hora nona) (cf. Atos 3,1-2) faziam a oração da tarde; e, por fim, faziam também a vigília noturna, na comunidade de Jerusalém (cf. At 12,12,5.12), na prisão em Filipos (cf. At 16,25), em Trôade, a liturgia habitual do domingo (cf. At 20,7-11).

Nas comunidades cristãs do II século podemos testemunhar o apelo para o orar sem cessar: ao levantar-se, às nove horas, ao meio dia, às três da tarde, ao cair da tarde e à noite, em particular e também em comunidade, fazer uma oração de louvor a Deus e intercessão por meio de salmos, hinos e cânticos espirituais (cf. At 3,16). A cada hora um sentido em memória da paixão e ressurreição de Jesus. Há gestos simbólicos: voltar-se para o oriente; mãos levantadas; lucernário.

Nas comunidades do IV século reconhecemos a prática de assembléias cotidianas, com o povo (crianças), especialmente de manhã e à tarde, com salmos, antífonas, hinos e orações… Associavam o mistério pascal à hora, tempo… Atuação de ministros… O rito do lucernário. Além disso, vigílias noturnas cotidianas e ocasionais (páscoa, natal, pentecostes, e do domingo).

Aos poucos a prática deixa de ser feita pelo povo e passa a ser feita, apenas, pelo clero, quase sempre de forma recitada, individual, sem a presença do povo e sem qualquer relação com as horas. Alguns fatores contribuíram criar uma barreira entre ofício divino e o povo. Primeiramente, a fixação da liturgia em latim; Em segundo lugar, uma sobrecarga de conteúdos, pela multiplicação de livros e ofícios. Em terceiro lugar, a recitação individual pelo clero sem povo e desligado da hora. Com o tempo, o povo entregou-se às devoções: o Ângelus, três vezes ao dia; o rosário, com 150 ave-Marias;  e o  ofício de Nossa Senhora com hinos da liturgia oficial. Mas a tradição de celebrar em comum foi preservada pelas comunidades monásticas.

Um pouco antes do Concílio Vaticano II, surgiu o movimento litúrgico consciente da necessidade de voltar às fontes da experiência cristã. Esse movimento fará a redescoberta da liturgia das horas. Como exemplo, merece destaque a experiência ecumênica concretizada pela Comunidade de Taizé que resgatou a prática das orações das horas com multidões.

O Concílio Ecumênico Vaticano II valorizará e oficializará, no documento Sacrosanctum Concilium, o resgate da liturgia das horas ou ofício divino. Assim, em 1971, acontece a publicação da primeira versão reformada da Liturgia das Horas e, logo depois, da Instrução Geral à Liturgia das Horas (IGLH), explicitando os princípios teológicos e pastorais.

Fica claro que o específico do Ofício Divino = Liturgia das Horas é fazer memória da páscoa nas horas do dia especialmente manhã, tarde e noite. Nas horas do relógio recordamos as horas de Deus na vida de Jesus e em nossa vida. A interrupção do trabalho pela oração, regularmente, é salutar, liberta o tempo, para que não seja preenchido apenas com o trabalho. Somos lembrados/as pelas horas que todo o tempo pertence a Deus. Voltando nossa atenção ao mistério de cada hora, associada às horas de Jesus, permitimos que a vida se ordene segundo os passos de Jesus:

  • De tarde “vésperas”, com o sol poente, fazemos memória da Páscoa de Cristo na ceia e na cruz. Ofício de Ação de graças. Rendemos graças pelas vitórias conquistadas e intercedemos pelas necessidades do mundo.
  • De manhã “laudes”, com o sol nascente, fazemos memória de Jesus Cristo em sua ressurreição. Ofício de Louvor. Dirigimos a Deus nossa prece de louvor pela luz do novo dia… Renovamos nossa adesão ao Cristo assumindo nossas responsabilidades na preservação do mundo.

O Ofício divino, como todas as ações litúrgicas da Igreja, é memória da Páscoa de Cristo e da páscoa do povo. Ao fazer memória participamos “da mesma piedade do unigênito do Pai, daquela oração que ele dirigiu durante a sua vida terrena e que agora continua, sem interrupção, em toda Igreja e em cada um de seus membros, em nome e pela salvação da humanidade” (IGLH 7).

O Ofício Divino é oração do Povo de Deus: de toda comunidade cristã (cf. IGLH 270). Não é algo reservado aos clérigos e monges, mas pertence a cada comunidade, ou um pequeno grupo, ou mesmo uma pessoa, o faz como Igreja, em nome de Jesus, pela humanidade (IGLH 7). É fonte de piedade e alimento da oração pessoal (cf. SC 90 e 14)

A Reforma da Igreja promovida pelo Concílio Vaticano II tem dimensões teológica, pastoral e espiritual. Suscita, portanto, uma reorganização dos diversos elementos que compõem o rito, que tem como finalidade levar o povo de Deus a participar do mistério pascal de Cristo, nas horas do dia. A Sacrosactum Concilium fala de uma participação: ativa; interna e externa; consciente; plena e frutuosa.

A Sacrosanctum Concilium deixa claro que a Igreja não deseja e nem pretende impor uma forma rígida e única de liturgia (cf. SC 37-40) devido a necessidade da inculturação. Aplicando este princípio ao Ofício Divino: foi elaborado na Igreja da América Latina o Ofício Divino das Comunidades levando em conta três referências:

  1. A TRADIÇÃO DA IGREJA, de celebrar em determinadas horas, uma oração de louvor e intercessão, com salmos, leituras bíblicas, hinos e orações.
  2. A REALIDADE DA AMÉRICA LATINA que, sobretudo a partir de Medellín, forjou um novo jeito de ser Igreja pelas Comunidades Eclesiais de Base, ligando de forma inseparável liturgia e vida.
  3. A PIEDADE POPULAR, buscando realizar a “mútua fecundação” entre liturgia e piedade do povo, correspondendo “aos anseios de oração e de vida cristã”.
Um roteiro do ofício divino é estruturado por

salmos, leituras bíblicas, meditação
• hinos e orações
• Música e silêncio
• Gestos e símbolos
• Em determinadas horas do dia
• Levando em conta a semana e o
tempo litúrgico

Um roteiro de liturgia das horas celebrado na 1• semana do advento (Terça – 9 horas)

  1. Vinde, ó Deus, em meu aulio.
  2. Socorrei-me sem demora.
    Glória aoPai e ao Filho e ao Esrito Santo.
    Como era no prinpio, agora e sempre. Amém. Aleluia.

HINO

Vinde, Espírito de Deus,
com o Filho e com o Pai,
inundai a nossa mente,
nossa vida iluminai.

Boca, olhos, mãos,sentidos,
tudo possa irradiar
o amor que em nós pusestes
para aos outros inflamar.

A Deus Pai e ao seu Filho
por vós dai-nos conhecer.
Que de ambos procedeis
dai-nos sempre firmes crer.

Salmodia

Ant. Anunciaram os profetas,
que, da Virgem Maria, nasce o Salvador.

Salmo 118(119),17-24

III (Ghimel)

Meditação sobre a Palavra de Deus na Lei

O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou (Jo 4,34).

17 Sede bom com vosso servo, e viverei, *
e guardarei vossa palavra, ó Senhor.
18 Abri meus olhos, e então contemplarei *
as maravilhas que encerra a vossa lei!

19 Sou apenas peregrino sobre a terra, *
de mim não oculteis vossos preceitos!
20 Minha alma se consome o tempo todo *
em desejar as vossas justas decisões.

21 Ameaçais os orgulhosos e os malvados; *
maldito seja quem transgride a vossa lei!
22 Livrai-me do insulto e do desprezo, *
pois eu guardo as vossas ordens, ó Senhor.

23 Que os poderosos reunidos me condenem; *
o que me importa é o vosso julgamento!
24 Minha alegria é a vossa Aliança, *
meus conselheiros são os vossos mandamentos.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Esrito Santo. *
Como era no prinpio, agora e sempre. Amém.

Ou:

Demos glória a Deus Pai onipotente
e a seu Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso, †
e ao Esrito que habita em nosso peito *
pelos culos dos culos. Amém.

Salmo 24(25)

Prece de perdão e confiança

A esperança não decepciona (Rm 5,5).

I

=1 Senhor meu Deus, a vós elevo a minha alma, †
2 em vós confio: que eu não seja envergonhado *
nem triunfem sobre mim os inimigos!
3 Não se envergonha quem em vós põe a esperança, *
mas sim, quem nega por um nada a sua fé.

4 Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos, *
e fazei-me conhecer a vossa estrada!
=5 Vossa verdade me oriente e me conduza, †
porque sois o Deus da minha salvação; *
em vós espero, ó Senhor, todos os dias!

6 Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura *
e a vossa compaixão que são eternas!
7 Não recordeis os meus pecados quando jovem, *
nem vos lembreis de minhas faltas e delitos!
– De mim lembrai-vos, porque sois misericórdia *
e sois bondade sem limites, ó Senhor!

8 O Senhor é piedade e retidão, *
e reconduz ao bom caminho os pecadores.
9 Ele dirige os humildes na justiça, *
e aos pobres ele ensina o seu caminho.

10 Verdade e amor são os caminhos do Senhor *
para quem guarda sua Aliança e seus preceitos.
11 Ó Senhor, por vosso nome e vossa honra, *
perdoai os meus pecados que são tantos!

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Esrito Santo. *
Como era no prinpio, agora e sempre. Amém.

II

12 Qual é o homem que respeita o Senhor? *
Deus lhe ensina os caminhos a seguir.
13 Será feliz e viverá na abundância, *
e os seus filhos herdarão a nova terra.
14 O Senhor se torna íntimo aos que o temem *
e lhes  a conhecer sua Aliança.

15 Tenho os olhos sempre fitos no Senhor, *
pois ele tira os meus pés das armadilhas.
16 Voltai-vos para mim, tende piedade, *
porque sou pobre, estou sozinho e infeliz!

17 Aliviai meu coração de tanta angústia, *
e libertai-me das minhas aflições!
18 Considerai minha miséria e sofrimento *
e concedei vosso perdão aos meus pecados!

19 Olhai meus inimigos que são muitos, *
e com que ódio violento eles me odeiam!
20 Defendei a minha vida e libertai-me; *
em vós confio, que eu não seja envergonhado!

21 Que a retidão e a inocência me protejam, *
pois em vós eu coloquei minha esperança!
22 Libertai, ó Senhor Deus, a Israel *
de toda sua angústia e aflição!

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Esrito Santo. *
Como era no prinpio, agora e sempre. Amém.

Ant. Anunciaram os profetas,
que, da Virgem Maria, nascerá o Salvador.

 

Leitura breve             Mq 5,3-4a

O dominador em Israel não recuará,apascentará com a força do Senhor e com a majestade do nome do Senhor seu Deus; os homens viverão em paz, pois ele agora estenderá o poder até aos confins da terra, e ele mesmo será a paz.

 

  1. As naçõesrespeitarão o vosso nome.
  2. E osreis de toda a terra, a vossa glória.

Oração

Despertai, ó Deus, o vosso poder e socorrei-nos com a Vossa força, para que vossa misericórdia apresse a salvação que nossos pecados retardam. Por Cristo, nosso Senhor.

Conclusão da Hora

  1. Bendigamos ao Senhor.
    R. Graças a Deus.

Fonte: Rede celebra – Liturgia das horas on line