QUINTA-FEIRA SANTA: PREPARATIVOS E SUGESTÕES PASTORAIS

O que é necessário preparar?

• Espaço da celebração: ornamentação que expresse alegria. Onde for possível, disponha-se a assembléia ao redor da mesa (altar). Essa disposição indicará visualmente uma comunidade de irmãos que se congregam ao redor de Cristo.

  • Mesa com toalha branca.

• Pão e vinho. Perto do altar, coloquem-se em destaque o pão e o vinho: pão vistoso, representando o corpo de Cristo; uma jarra transparente com vinho tinto, representando o sangue de Cristo. Esse pão e esse vinho não deverão ser consagrados; apenas recordam a última ceia de Jesus. No final da celebração, o pão e o vinho poderão ser repartidos entre os participantes.

• Bacia, jarra com água, toalha e, eventualmente, um avental que o sacerdote usará no rito do lava-pés. • Pessoas para o lava-pés. As pessoas, cujos pés serão lavados, devem comparecer com antecedência ao local da celebração.

• Turíbulo e naveta com incenso.

• Véu umeral para a transladação do Santíssimo no tabernáculo.

• Paramentos brancos para o sacerdote e os ministros.

• Capela, devidamente ornada, para a reposição do Santíssimo.

• Cânticos. Os cânticos sejam preparados com antecedência e adequados a cada momento da cele­bração (entrada, glória, lava-pés, transladação do Santíssimo…).

• Leituras. As leituras devem encontrar-se devidamente assinaladas no lecionário. E que as pessoas escolhidas para a proclamação da Palavra cheguem com antecedência ao local da celebração.

• Missal Romano. Marcar a “Missa vespertina da Ceia do Senhor”, o prefácio da Santíssima Eucaristia e outras partes da celebração.


Aspectos simbólicos e sugestões pastorais

• Dar a toda a celebração uma tonalidade alegre, pois Jesus, antes de sofrer, desejou ardentemente comer esta ceia pascal com seus discípulos (cf. Lc 22,15) e, ao revelar importantes mistérios do Reino, disse-Ihes: “Eu vos digo isto para que a minha alegria esteja em vós, e vossa alegria seja plena” (Jo 15,11).

• Glória. Para dar maior brilho e solenidade ao canto do Glória, pode-se acompanhá-Io com o repicar da campainha e o toque do sino.

• Deposição da casula. O sacerdote, antes de proceder ao lava-pés, retira a casula ou a estola e veste o avental. Está pronto para o serviço. Depois do lava-pés, o sacerdote retira o avental e novamente reveste-se da casula ou estola. Cada gesto deve ser realizado com calma e dignidade, diante de toda a assembléia.

• Lava-pés. Na escolha das pessoas para esse rito, é sempre conveniente salientar os serviços mais humildes na comunidade. Os convidados para o lava pés sejam postos em lugar visível a toda a assembléia. O sacerdote-presidente, além de lavar e beijar um dos pés de cada “apóstolo”, pode também dar-lhe um efusivo abraço. São gestos que expressam sim­bolicamente a profunda afeição de Jesus por nós. As comunidades costumam ser criativas, podendo usar outras modalidades para o rito do lava-pés. Importante é que o façam com dignidade e concentra­ção, imaginando quais seriam os sentimentos de Jesus nesse momento.

• Procissão das oferendas. Pode-se organizar uma procissão dos fiéis, com donativos para os pobres. Esse gesto realça o amplo sentido da eucaristia e o mandamento novo: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.

• Comunhão sob as duas espécies. É recomen­dável que, à medida do possível, todos comunguem sob as espécies do pão e do vinho: é a forma de vivenciar mais profundamente o rito realizado na última ceia.

• Procissão para a transladação do Santíssimo Sacramento. Transladar quer dizer transportar de um lugar para outro. O Santíssimo Sacramento será guardado num tabernáculo fechado. Não se deve fazer exposição com o ostensório. O pão eucarístico aí é guardado para a comunhão que será distribuída na Sexta-feira da paixão do Senhor. Usar incenso.

• Desnudamento do altar. Simboliza o despoja­mento de Jesus na cruz. Após breve momento de adoração silenciosa ao Santíssimo, o sacerdote e os ministros voltam à sacristia. Retiram-se as toalhas do altar e, se possível, também as cruzes da igreja.


LITURGIA DA QUINTA-FEIRA SANTA

Na “missa vespertina da Ceia do Senhor”, cele­bramos a instituição da eucaristia, a instituição do sacerdócio e o mandamento do Senhor sobre a caridade fraterna.

Quatro são os momentos principais que consti­tuem a celebração da missa vespertina da ceia do Senhor:

a) Liturgia da Palavra

• Primeira leitura (Ex 12,1-8.11-14). O trecho bíblico recorda a celebração pascal dos judeus. Mediante a realização da ceia pascal, os judeus faziam memória, isto é, tornavam presente o grande acontecimento do Antigo Testamento: a passagem da escravidão do Egito para a liberdade. Esse texto servia de base ao rito da Páscoa, no tempo de Jesus. Ilustra o que ele fez na véspera de ser imolado em favor de toda a humanidade. A tradição cristã viu no cordeiro pascal imolado a própria figura de Jesus, de quem João Batista havia dito: “Eis o cordeiro de Deus, eis aquele que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29).

• Segunda leitura (1Cor 11,23-26). Escrevendo aos coríntios, Paulo recorda-Ihes a tradição que ele havia recebido do Senhor. Trata-se da narrativa da instituição da eucaristia na última ceia de Jesus com seus discípulos. As palavras escritas por São Paulo, no primeiro século do cristianismo, são fundamentalmente as mesmas que o sacerdote pronuncia hoje na missa.

• Evangelho (Jo 13,1-15). Jesus vive conscien­temente o momento de sua passagem para o Pai. Embora seja o Senhor e o Mestre, Jesus apresenta-se como servo, e indica com clareza as exigências para a participação da eucaristia. Suas palavras são reforçadas pelo exemplo de serviço.

b) Lava-pés

O celebrante repete o gesto de Jesus, que lava os pés dos apóstolos. A ação simbólica manifesta que Jesus se coloca como servo num ato de amor e de serviço para com os apóstolos, e recomenda que se faça o mesmo entre os irmãos. Não ordena que se repita um rito, mas fazer como ele fez o que significa refazer, em todo tempo e em toda comunidade, gestos de serviço mútuo, por meio dos quais se torne presente o amor supremo de Cristo pelos seus (“amou-os até o fim”)

c) Liturgia eucarística

O que se põe em destaque é o memorial da insti­tuição da eucaristia neste dia, reforçado pelo prefácio da eucaristia e por outras orações: coleta, oração sobre as oferendas e oração depois da comunhão.

d) Transladação do Santíssimo Sacramento

Terminada a missa, Jesus eucarístico é conduzido solenemente até o altar da Reposição, que é o ato de recolocar Jesus no tabernáculo. As sagradas espécies eucarísticas para a comunhão do dia seguinte permanecem aí para a adoração dos fiéis.


QUINTA-FEIRA SANTA: PONTOS DE REFLEXÃO

(No início do encontro, podem ser lidos os textos bíblicos
e as orações da missa vespertina da quinta-feira santa.)

Com base nas leituras bíblicas e orações da missa vespertina da quinta-feira santa, proponho alguns pontos de reflexão. Quanto mais aprofundarmos o sentido da celebração, mais condições teremos de participar dela ativamente. E as pessoas escaladas para o serviço do altar certamente vão atuar com mais concentração e dignidade.

A novidade de Jesus

Ao celebrar a Páscoa, os judeus faziam memória da ocasião em que foram libertados da escravidão do Egito. Louvavam a Deus com salmos e orações, consumiam pão sem fermento, ervas amargas e um cordeiro; como bebida, tomavam algumas taças de vinho. Qual é a novidade que Jesus traz para a última ceia? Jesus dá novo sentido ao pão e ao vinho. Com efeito, ele toma o pão, e diz aos discípulos: “Isto é o

meu corpo que será entregue por vós; fazei isto em memória de mim”, e depois parte o pão e o reparte entre os discípulos. Em seguida toma uma taça com vinho e diz: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de mim” (lCor 11,24-25). Jesus realiza ritualmente o que deverá acontecer realmente na cruz: o pão é seu corpo, que será entregue; o vinho é seu sangue, que será derramado em favor de todos, como memorial da nova e eterna aliança. Jesus faz-se alimento espiritual para nós. Ele, que conhece profundamente os anseios do coração humano, dispõe-se a entrar em nosso organismo, em nossa vida, em nossa história cotidiana, sob os sinais do pão e do vinho.

Instituição do sacerdócio ministerial

A eucaristia não é um ato fechado, limitado às quatro paredes do cenáculo e ao grupo dos apóstolos; ao contrário, ela se abre para todos os tempos e gerações. Paulo dizia: “Todas as vezes que comeis deste pão e bebeis deste cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha” (lCor 11,26). E repetia:

“Fazei isto em minha memória” (Lc 22,19). Aqui nasce a instituição do sacerdócio ministerial. Os sacerdotes, conforme a Constituição dogmática sobre a Igreja, “exercem seu ministério sagrado principalmente no culto ou assembléia eucarística, onde, agindo na pessoa de Cristo e proclamando seu mistério, juntam as orações dos fiéis ao sacrifício de Cristo, sua cabeça, e no sacrifício da missa renovam e aplicam, até a vinda do Senhor, o único sacrifício do Novo Testamento…” (LG 28). Por isso, diz-se que a quinta-feira santa é também o dia do sacerdote.

O mandamento do amor

No contexto da última ceia, após lavar os pés dos discípulos, Jesus nos deixa o mandamento do amor:

“Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros” (Jo 13,34). Amor que se expressa no serviço aos irmãos e irmãs: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,35).

Atitude de humildade e serviço

Jesus abaixa-se diante de cada apóstolo para lavar-lhe os pés. Esse gesto nos toca profundamente:

Deus abaixa-se para erguer o ser humano. Esta lição de humildade nos convida a ser gratos a Deus e a servir nossos semelhantes.

Todos somos iguais e filhos do mesmo Pai

Jesus não seguiu nenhuma hierarquia para começar a lavar os pés dos apóstolos; e também não

excluiu nenhum deles, nem mesmo o traidor. Isso nos revela que, na comunidade de Jesus, todos somos iguais, todos somos irmãos. Não importa a posição que uma pessoa ocupa na sociedade, nem quanto dinheiro tem no banco. O que importa é que todos somos filhos do mesmo Pai.

Eucaristia e compromisso social

Fazer memória da eucaristia é assumir hoje o modo de ser e agir de Jesus. Ora, Jesus dedicou todo o seu tempo e aplicou todas as suas energias para melhorar as condições de vida dos pobres e dos que viviam à margem da sociedade. A luta de Jesus tinha em vista restituir a dignidade a todo ser humano. Essa é a exigência que brota da eucaristia para nós hoje.



LITURGIA
DA SEXTA-FEIRA SANTA

(Sugerimos, neste encontro,
o uso do Missal Romano para seguir as várias partes da liturgia. Para as leituras, pode-se usar o Lecionário.)

Seguindo uma tradição muito antiga, a Igreja hoje não celebra a eucaristia, mas põe em destaque a proclamação da Palavra. Nesse dia, a comunidade cristã reúne-se não para vivenciar um funeral, mas sim a morte vitoriosa de Jesus Cristo.

A celebração da Paixão do Senhor compõe-se de três partes: liturgia da Palavra, incluindo-se a oração universal, adoração da cruz e comunhão.

a) Liturgia da palavra

A profecia de Isaías (Is 52,13-15; 53,1-12) apre­senta-nos o servo sofredor, que é inocente, mas sofre as conseqüências de uma estrutura injusta da sociedade em que vive. Entretanto, é mediante o sofrimento do servo que o projeto de Deus terá sucesso. Esse servo é a figura de Jesus, que por sua paixão e morte alcança a salvação para todos. O salmo responsorial é tirado do salmo 31. O versículo 6 foi pronunciado por Jesus, na cruz: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). Com este versículo, escolhido como resposta da assembléia, a Igreja atribui a Cristo o salmo todo, descrevendo a sua paixão e seu completo abandono ao Pai.

O trecho da Carta aos Hebreus (Hb 4,14-16; 5,7-9) mostra-nos um Cristo obediente, que se torna causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem.

Aclamação ao Evangelho. Como preparação para ouvir o relato da Paixão, a assembléia canta parte do hino aos filipenses, na qual Jesus é exaltado e glorificado pelo Pai: “Foi obediente até à morte, e morte de cruz! Por isso Deus o exaltou grande mente e o agraciou com o Nome que está acima de qualquer nome” (FI 2,8-9).

Leitura da Paixão segundo João (Jo 18 e 19). Em vez de acentuar os aspectos do sofrimento humano de Jesus, o quarto evangelho destaca os sinais da sua divindade e da sua glória. Jesus realiza a obra de salvação não como vítima impotente, esmagada sob o peso da cruz, mas na atitude soberana e nobre de quem conhece o sentido e o rumo dos acontecimentos e os aceita na liberdade. Para Jesus, a cruz não é uma fatalidade, mas um instrumento de redenção para todo o povo.

Solene oração dos fiéis. O formulário atual, composto de dez orações, tem sua origem antes do século quinto. Com algumas adaptações, conforme a linguagem e as necessidades atuais da Igreja e do mundo, a oração universal exprime verdadeira­mente a abertura universal da comunidade cristã, consciente de que a salvação de Cristo é oferecida a todas as pessoas.

b) Apresentação e adoração da cruz

O rito da apresentação e adoração da cruz vem como conseqüência lógica da proclamação da paixão de Cristo. A Igreja ergue, diante dos fiéis, o sinal do triunfo do Senhor, que havia dito: “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que Eu sou” (Jo 8,28).

Enquanto apresenta a cruz, o celebrante canta três vezes: “Eis o lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo”. A assembléia, cada vez, responde: ”Vinde, adoremos!”. Durante a procissão da adoração, entoam-se cânticos apropriados.

c) Comunhão

Embora não haja celebração eucarística, os fiéis podem comungar das hóstias consagradas na missa da quinta-feira santa. Mesmo que seja feita fora da missa, a comunhão é íntima união com Cristo, que se oferece por nós em sacrifício ao Pai.

Durante a comunhão, é bom escolher um cântico apropriado à circunstância.


SEXTA-FEIRA SANTA E SÁBADO SANTO: ASPECTOS SIMBÓLICOS E PASTORAIS

Sexta-feira santa

A celebração da Paixão do Senhor desenrola-se em clima de recolhimento e respeito. Calam-se os instrumentos musicais. Evitem-se comentários longos, pois as orações e os elementos simbólicos falam por si.

Aspectos simbólicos e sugestões pastorais

• Cor vermelha. A cor litúrgica da sexta-feira santa é o vermelho. Expressa a realeza de Cristo, vencedor da morte. O vermelho é também a cor do sangue dos mártires, e Jesus é o Mártir por excelência.

• Prostração e silêncio. O presidente da celebração e os ministros dirigem-se ao altar em silêncio, sem canto. Feita a reverência ao altar, o sacerdote e os ministros se prostram. Esse gesto expressa profundo respeito diante do mistério da morte de Jesus e a tristeza dolorosa da comunidade cristã. Enquanto o sacerdote e os ministros estão prostrados, os fiéis permanecem ajoelhados e oram em silêncio.

• Narrativa da Paixão. A história da Paixão segundo João é lida ou cantada por pessoas que fazem a parte do narrador, do povo e de Cristo (esta é reservada, de preferência, ao sacerdote). Eventualmente pode haver mais um leitor, para fazer a parte de outros personagens.

• Adoração da cruz. Adoramos a pessoa de Cristo crucificado. Para esse rito, escolha-se uma das duas fórmulas apresentadas pelo Missal Romano. Sejam cantados tanto o convite feito ao mostrar a santa cruz (“Eis o lenho da cruz… “), quanto a resposta dos fiéis (“Vinde, adoremos!”). Observe-se também um instante de silêncio cheio de reverência depois de cada apresentação da cruz. É recomendável que cada fiel tenha a possibilidade de aproximar-se da cruz e expressar seu gesto de adoração.

• Comunhão. Onde for possível, os fiéis comun­guem das hóstias consagradas na missa da quinta feira santa.

• Desnudamento do altar. Ao encerrar a celebração da Paixão do Senhor, faça-se o desnudamento do altar, colocando-se, porém, a cruz em lugar adequado, de modo que os fiéis possam contemplá-Ia.

• Cânticos apropriados. Tenha-se o cuidado de escolher cantos que se refiram à Paixão do Senhor.

• Via-sacra e outros exercícios de piedade. Por sua importância pastoral, que sejam valorizados os piedosos exercícios da via-sacra: procissão da Paixão e memória das dores de Nossa Senhora. Os dirigentes

podem aproveitar a ocasião para transmitir aos fiéis o sentido profundo da morte de Jesus, e incentivá-l os a participar também da vigília pascal, para que celebrem o mistério da ressurreição de Cristo.

• Mensagem de esperança. Os responsáveis pela celebração da sexta-feira da paixão devem procurar transmitir ao povo sofrido uma mensagem de espe­rança e encorajamento, oferecendo-lhe perspectivas de ressurreição (“vida nova”).

Sábado santo

O Missal Romano apresenta o sábado santo como o dia em que “a Igreja permanece junto ao sepulcro do Senhor, meditando sua paixão e morte, e abstendo-se do sacrifício da missa, até que, após a solene vigília em que espera a Ressurreição, entregue-se às alegrias da Páscoa”.

O sábado santo, portanto, é considerado um dia “a-litúrgico”, isto é, sem celebração eucarística. É dia de respeito e meditação em torno do mistério que a Igreja acabou de celebrar na sexta-feira santa. É também o grande dia de Maria, a hora em que ela, mais uma vez, haverá de guardar “todas essas coisas, meditando-as em seu coração”. Por isso, mais que acentuar o luto pela morte de Jesus, os fiéis já começam a preparar-se para o que virá, com grande solenidade, na noite da vigília pascal: a ressurreição de Jesus.


VIGÍLIA PASCAL: PREPARATIVOS E SÍMBOLOS

A vigília pascal, que Santo Agostinho chamava de “a mãe de todas as vigílias”, vai da noite do sábado santo ao domingo da ressurreição. É uma vigília de oração em que os cristãos, vigilantes, aguardam o acontecimento central da história: a ressurreição de Jesus. Seu ponto mais alto é a celebração eucarística, que é o encontro com Cristo, o vencedor da morte.

O que é necessário preparar?

• velas para que os fiéis acompanhem a procissão com o círio pascal;

• pequena fogueira, fora da igreja, para a bênção do fogo novo;

• turíbulo, no qual serão colocadas brasas tiradas do fogo novo; uma tenaz, ou instrumento adequado, para pegar as brasas e colocá-Ias no turíbulo;

  • naveta com incenso;

• círio pascal e estilete, o qual o sacerdote utilizará para gravar a cruz sobre o círio;

• cinco grãos de incenso, que serão fixados nos pontos que representam as cinco “chagas gloriosas” de Cristo;

• Missal Romano, com as fitas marcando as páginas da celebração da vigília pascal;

• pia batismal e tudo o que se usa para o ritual do batismo, se houver batizado;

  • ·todo o necessário para a celebração eucarística; • paramentos brancos para o sacerdote e os ministros.

Símbolos e gestos simbólicos

Os elementos simbólicos comunicam a riqueza e a importância da celebração:

• o fogo novo, extraído da pedra, representa Jesus ressuscitado, a “pedra angular”, que, saindo do sepulcro de pedra, vence as trevas do mal e vai ao encontro de sua glória;

• o círio aceso e a procissão dos fiéis ao seu redor indicam a presença de Cristo ressuscitado, iluminando e guiando a sua comunidade. Lembra a presença de Deus que, na coluna de fogo, vai adiante do povo de Israel, iluminando-o na escuridão da noite. Recorda também as palavras de Jesus: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). A primeira e a última letras do alfabeto referem-se a Cristo, princípio e fim de

tudo e de todos (o Missal Romano propõe as letras alfa e ômega do alfabeto grego); os algarismos do ano corrente apresentam o Redentor como Senhor absoluto da humanidade e dos tempos; os grãos de incenso, que se colocam nas quatro extremidades e no centro da cruz, representam as cinco chagas do Salvador;

• o canto solene da Proclamação da Páscoa recorda a todo o povo as maravilhas da redenção realizada por Cristo;

• as várias leituras da liturgia da Palavra dão-nos um panorama da história da salvação, salientando o amor de Deus pela humanidade e suas intervenções salvíficas, suas alianças desde a origem até a plenitude dos tempos, quando Jesus vem para dar cumprimento a tudo o que fora previsto desde os tempos antigos;

• o batismo de uma ou várias pessoas. Com o batismo, inaugura-se a vida nova trazida por Cristo;

  • a comunhão reforça nossa aliança com Deus;

• os cânticos festivos, os aleluias, as flores e luzes em abundância, tudo indica que o clima é de alegria pela presença do Cristo ressuscitado entre nós.


VIGILIA PASCAL: DINÂMICA DA CELEBRAÇÃO

A liturgia da vigília pascal constitui-se de quatro partes:

  • liturgia da luz;

  • liturgia da palavra;

  • liturgia batismal;

  • liturgia eucarística.

1. Liturgia da luz

a) Segundo várias passagens da Bíblia, o fogo é elemento de purificação, instrumento do julgamento de Deus e sinal da sua presença. A luz, por sua vez, indica a manifestação de Deus; o próprio Jesus, “luz do mundo”; os cristãos, que antes eram trevas, agora são luz no Senhor.

b) Na Bíblia, as trevas recebem amplo leque de significados: o mal, a desordem, o castigo, esconderijo dos que praticam o mal e o mundo pecador no qual resplandeceu a luz do Verbo encarnado.

c) Convém ressaltar o contraste de trevas e luz, para simbolizar a passagem da escravidão para a libertação, do pecado para a graça, da morte para a vida. Por isso, enquanto se faz a celebração ao redor do fogo e do círio, as luzes do ambiente devem encontrar-se apagadas. Serão acesas após a terceira vez em que se proclama: Eis a luz de Cristo, ao que os fiéis respondem: Demos graças a Deus!

d) Para a procissão, o turiferário vai à frente com o turíbulo; depois, a pessoa com o círio pascal aceso; em seguida, a assembléia. Como o povo de Israel era guiado pela coluna de fogo, assim os cristãos, por sua vez, seguem Cristo ressuscitado. Quem estiver mais perto do círio acende nele sua vela e vai espalhando a luz para outras pessoas. Chegando ao presbitério, quem leva o círio coloca-o em lugar próprio, ao lado do ambão, de onde será cantada a Proclamação da Páscoa. O círio é incensado.

e) O canto do Exulte, ou Proclamação da Páscoa, é um convite para que o universo inteiro – criaturas visíveis e invisíveis – celebre as maravilhas operadas por Deus nessa noite santa, ponto culminante de toda a história da salvação. Cristo ressuscitado é o novo Adão, o Cordeiro imolado, o vencedor da morte, que “liberta o pecador dos seus grilhões; dissipa o ódio e dobra os poderosos, enche de luz e paz os corações”, segundo expressões do próprio hino. Durante o canto da Proclamação da Páscoa, a assembléia permanece de pé, com as velas acesas.

2. Liturgia da palavra

As leituras bíblicas são nove. As sete leituras do Antigo Testamento recordam os fatos principais da ação de Deus na vida do povo. A epístola e o evangelho mostram como Deus realiza em Jesus Cristo as promessas feitas ao longo da história da salvação.

a) Cada leitura é seguida de um salmo apropriado e de uma oração, que retoma o tema da leitura que acaba de ser proclamada.

b) Após a sétima leitura, canta-se o Glória, que pode ser acompanhado pelo toque de sinos, campainhas e outras expressões de alegria.

c) Terminada a proclamação da epístola, entoa-se solenemente o Aleluia (“Louvai a Deus”).

d) O evangelho, de preferência cantado, seja precedido por uma vibrante aclamação. Depois da proclamação do evangelho, poderá haver alguma representação da Ressurreição (sugiro algumas dinâmicas no livro Semana Santa preparar e celebrar, indicado na bibliografia).

3. Liturgia batismal

Desde os primeiros séculos, a Igreja ligou a celebração do batismo à noite pascal. Tertuliano (século IV) diz: “Páscoa é o dia mais conveniente

para o batismo, porque nela se realizou a paixão de Cristo, na qual fomos batizados (mergulhados)”. E São Basílio (século V) afirma: “Qual dia apresenta maior afinidade com o batismo do que a Páscoa? De fato, esse dia é um memorial da ressurreição, e o batismo é justamente uma força de ressurreição”.

a) Um aspecto relevante da liturgia batismal é a bênção da fonte, indicando que a graça do batismo não vem da água, mas do Espírito Santo. Por isso, o sacerdote mergulha o círio pascal na água, enquanto pronuncia estas palavras: “Nós vos pedimos, ó Pai, que por vosso Filho desça sobre esta água a força do Espírito Santo…”

b) Renovação das promessas batismais. A assem­bléia, de pé e com velas acesas, renova as promessas do batismo e a profissão de fé. Isso indica que o batismo é um compromisso que o cristão deve renovar e assumir a cada dia. Se houver batismo, seja este realizado bem à vista de toda a assembléia.

4. Liturgia eucarística

A liturgia eucarística é o ponto culminante de toda a vigília pascal. É a mais elevada ação de graças que a Igreja apresenta ao Pai, por ele nos ter dado seu Filho que morreu e ressuscitou. “Toda a assembléia é convidada a participar da vida do Ressuscitado, pois, como proclama o prefácio pascal, Cristo é o verdadeiro cordeiro que tirou o pecado do mundo; morrendo, destruiu a morte, e ressurgindo, deu-nos a vida”.

a) Apresentação das oferendas. É conveniente que os neobatizados levem o pão e o vinho até o altar. No momento da apresentação das oferendas (pão e vinho), o sacerdote poderá apresentar também as pessoas recém-batizadas.

b) Oração dos fiéis. Os neobatizados adultos podem ser convidados a participar, pela primeira vez, da oração dos fiéis.

c) Santo. Seja cantado com vibração.

d) Oração eucarística. Quando for possível, a comunidade é convidada a aproximar-se e ficar ao redor da mesa eucarística, a fim de realçar o sentido de intimidade e comunhão com o Senhor ressuscitado.

e) Comunhão. Os participantes são chamados a comungar o corpo vivo e glorioso de Cristo. Pela comunhão, os fiéis unem-se a Cristo e entre si.

D Bênção solene. O Missal Romano traz uma bênção solene, que poderá ser cantada, e a assembléia participa respondendo: Amém.

d) Final. Após a bênção, todos podem cumprimen­tar-se com augúrios de Feliz Páscoa. Se possível, concluir a grande celebração com animada confraternização.

PRECE A CRISTO RESSUSCITADO

Jesus Cristo Ressuscitado, que rompes as cadeias da morte e estás acima das categorias de tempo e espaço, ensina-nos que morrer não é o fim, mas passagem para a vida eterna. Aumenta nossa fé, fortalece nossa esperança e incentiva-nos à prática da caridade. Tu, que aos apóstolos reunidos no cenáculo ofereces o dom da paz, vem visitar nossos lares, afasta de nós todo tipo de vícios, falta de respeito e violência, e ajuda-nos a manter um clima de compreensão e diálogo renovador.

Abençoa, Senhor Jesus, as famílias do mundo inteiro. Cuida de nossas crianças e jovens, move os governantes a defender os interesses do povo, criando mais empregos e melhores condições de saúde e segurança.

Que todos nós, seguidores de Jesus Ressuscitado, possamos unir nossas forças e inteligência para a construção de uma sociedade fraterna, em que todos vivam como irmãos e amigos. Acolhe nossa prece, ó Cristo Ressuscitado, tu que vives com o Pai na unidade do Espírito Santo.

Amém!


LITURGIA DO DOMINGO DA PÁSCOA

A ressurreição de Jesus

N a madrugada de domingo, algumas mulheres vão ao túmulo onde Jesus foi sepultado, e encontram removida a pedra da entrada, e o túmulo vazio. Ficam desconcertadas. Avisam imediatamente os apóstolos. Estes têm dificuldade de acreditar. Pedro e João vão conferir. Dão com o túmulo vazio, mas não vêem Jesus.

Aos discípulos de Emaús, desiludidos perante os últimos acontecimentos, o próprio Jesus, disfarçado de peregrino, esclarece: “Como vocês custam para entender, e como demoram para acreditar em tudo o que os profetas falaram! Será que o Messias não devia sofrer tudo isso, para entrar na sua glória?” (Lc 24,25-26).

As aparições de Jesus ressuscitado terão a força de consolidar os discípulos na fé (cf. Mc 16,9; Mt 28,9-10; Lc 24,37-39; Jo 20,27; 21,10).

Várias aparições de Jesus às mulheres e aos apóstolos, em momentos e circunstâncias diferentes, vão dando sentido ao túmulo vazio. De fato, Jesus está vivo e aparece a seus amigos. Devolve a eles a alegria e o conforto da sua presença. Reforça-Ihes a fé e a esperança. Confirma-Ihes a certeza de que o caminho para Deus agora está livre, desimpedido. O mundo todo pode alegrar-se.

Liturgia da Páscoa

Toda a liturgia do dia da Páscoa está centrada na pessoa de Jesus Cristo ressuscitado.

a) A oração do dia começa proclamando: “Ó Deus, por vosso Filho Unigênito, vencedor da morte, abristes hoje para nós as portas da eternidade”.

b) A primeira leitura (At 10,34a.37-43) traz uma síntese da pregação apostólica, isto é, o anúncio da morte e ressurreição de Cristo.

c) A segunda leitura (CI 3,1-4) é um convite aos

cristãos a procurar as coisas do alto, onde está Cristo. Não se trata de desprezar as coisas terrenas, mas descobrir a vida nova revelada em Jesus Cristo.

d) O Evangelho segundo João (Jo 20,1-9) relata que Pedro, João e Maria Madalena são as primeiras testemunhas da ressurreição de Cristo. O sepulcro vazio indica que Jesus não ficou prisioneiro da morte, mas está vivo.

e) A oração sobre as oferendas mostra uma

assembléia “transbordando de alegria pascal”.

f) O primeiro prefácio da Páscoa salienta que Cristo, “morrendo, destruiu a morte, e ressurgindo, deu-nos a vida”.

g) A antífona da comunhão lembra que “Cristo, nossa Páscoa, foi imolado”.

h) Finalmente, a oração depois da comunhão faz votos de que todos nós, “renovados pelos sacramentos pascais, cheguemos à luz da ressurreição”.


DOMINGO DA PÁSCOA: ASPECTOS SIMBÓLICOS E PASTORAIS

A ressurreição de Cristo e a liturgia do dia da Páscoa foram temas de nossa reflexão no encontro anterior. Agora vamos ocupar-nos com os símbolos pascais e algumas indicações de como dinamizar a celebração.

Símbolos da Páscoa

• Círio pascal: simboliza a presença de Cristo ressuscitado, luz do mundo, no meio da sua comuni­dade: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas” (Jo 8,12).

• Coelho: é símbolo da fecundidade, aplicado mais acertadamente à Igreja, que gera, por meio do batismo, novos filhos para a comunidade cristã.

• Cordeiro: representa Jesus Cristo, o verdadeiro “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, isto é, realiza a plena e definitiva libertação dos fiéis (cf. Jo 1,29). Ele é o Cordeiro que se oferece ao Pai na cruz. Ele é o Cordeiro que atualiza, em nossos altares, sua oferta ao Pai, dando-se a nós em alimento. Segundo o livro do Apocalipse, “a salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro” (Ap 6,10).

• Cruz: instrumento de tortura para os condena­dos, foi para toda a humanidade o instrumento de redenção e salvação. Jesus dizia: “Quando eu for erguido da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32).

• Fogo: nasce da faísca de pedras, representa Jesus que deixa a pedra fria do sepulcro e ressuscita para a vida.

• Girassol: a flor do girassol, voltada para o sol, representa a comunidade dos fiéis, que se volta para Jesus, a verdadeira luz do mundo.

• Ovo: indica a promessa de vida nova. O costume de presentear pessoas com ovos de chocolate só surgiu na época em que se desenvolveu a indústria de chocolate. Antes, os ovos de galinha eram pintados com cores vivas e presenteados a pessoas queridas. Era costume também colocar neles mensagens de Páscoa.

• Votos de felicidade e presentes: indicam a alegria dos cristãos, ao reconhecerem que Cristo nos libertou do pecado e da morte; abriu-nos as portas da comunhão definitiva com Deus; Ele está sempre conosco e nos alimenta a esperança de vida melhor.

Aspectos simbólicos e sugestões pastorais

• Espaço da celebração. Ao preparar o espaço da celebração, a equipe de liturgia deve considerar o

clima de alegria e de festa: cor branca, flores, algum cartaz com frase alusiva à Ressurreição (por ex.:

“Cristo ressuscitou! Aleluia! Ou: Cristo venceu a morte e vive para sempre!”.

• Círio pascal. Mantenham-se em destaque o círio pascal e a pia batismal. .

• Procissão de entrada. Envolver com faixa branca a cruz com o crucifixo, que precede a procissão: símbolo da vitória de Cristo sobre a morte.

• Ato penitencial. Com vista a recordar aos fiéis os compromissos do batismo, pode-se realizar o rito de aspersão com a água abençoada na vigília pascal.

• Glória. Durante o canto do glória, pode-se repicar o sino e tocar a campainha (Outras sugestões, no livro Semana Santa preparar e celebrar, indicado na bibliografia).

• Evangelho. Para a proclamação do evangelho, é recomendável organizar uma pequena procissão com o evangeliário, circundado por velas acesas e incenso. Incensá-lo antes da proclamação do evangelho. Após a proclamação, um grupo de adolescentes, sobre patins e em vestes brancas, percorre os corredores da igreja, formando harmoniosa coreografia, mostrando faixas ou cartazes alusivos à Ressurreição. Como fundo musical pode-se ouvir o Aleluia de Handel (CD Musical Treasures, vol. lI, Paulus).

• Apresentação das oferendas. Na procissão com as oferendas (pão e vinho), pode-se levar um arranjo de flores brancas, expressando a alegria pela ressurreição do Senhor.

• Abraço da paz. O abraço da paz pode ser deixado para o final. Então os participantes poderão expressar mutuamente votos de Feliz Páscoa!

• Bênção final. Para a bênção final, convém utilizar a fórmula solene própria para o dia de Páscoa (cf. Missal Romano).