Um dos livros dentre os quais retomei a leitura, “o que a fé não é”, me fez recordar alguns assuntos espinhosos em matéria litúrgica. Dentre esses está a problemática das missas de cura de libertação. Já que a Liturgia da Igreja constitui-se “fé em ato”, interferir seu contexto ritual e eucológico arbitrariamente como costuma ocorrer nestas ocasiões é preocupante. É exatamente no contexto celebrativo que poderemos encontrar desde as mais belas expressões da fé, às mais delirantes e – porque não – heréticas maneiras de exprimi-la e realizá-la.
O caso das chamadas Missas de Cura e Libertação trazem consigo questões complexas e ao mesmo tempo interessantes na compreensão e experiência do mistério de Cristo e do ser humano que a Liturgia da Igreja encerra. Pessoalmente, minha opinião de teólogo da liturgia é que estas celebrações trazem um defeito de base: transformam o médico e o devir terapêutico em medicamento. E foi exatamente neste ponto que o livro de Mitch Finley me ofereceu alguns insights, os quais compartilho neste breve artigo. Sua primeira reflexão se intitula “a fé não é uma aspirina espiritual”. Dentre suas afirmações que me parecem mais pertinentes está a seguinte: “a fé de Jesus não o salvou da dor e do sofrimento, nem durante sua vida, nem enquanto morria pendurado na cruz. Portanto seria inadequado pensarmos a fé como uma forma de escapar da dor e do sofrimento, como uma espécie de novocaína espiritual.”[1] Se para Jesus foi assim, igualmente será inadequado transformar os ritos com os quais a Igreja recorda sua vida e a nos impregna com sua presença em um mero fármaco que nos livraria desta ou daquela dor.
As celebrações da Igreja, todas e cada uma, reúnem em si e realizam esta missão de Jesus – integralmente. Jesus, como aquele que nos preside em cada ação litúrgica não é um farmacêutico e os ritos – suas ações – não são comprimidos ou xaropes |